Tema de grande interesse político e midiático em 2019 e 2020, a discussão sobre o número de focos de queimadas não ganhou as capas dos jornais nem dominou os tuítes ao longo de 2021.
Em 2019 os incêndios na Amazônia foram tratadas pela grande imprensa e por atores políticos internacionais como o presidente francês Emannuel Macron e a adolescente sueca Greta Thunberg como catástrofes ambientais sem precedentes. A Amazônia estaria queimando como nunca e a culpa seria do presidente então recém-empossado, Jair Bolsonaro. No ano seguinte os olhares se desviaram para o Pantanal, e novamente a culpa da catástrofe sem precedentes seria de Bolsonaro.
A comparação entre os números, tanto se levada em consideração a série histórica quanto se levado em consideração o momento climático do continente sulamericano, não justificava a gritaria. O atual sistema de monitoramento de queimadas do INPE (cujos dados você pode conferir aqui) foi inaugurado em meados de 1998 e fornece informações sobre o número de focos dia a dia, mês a mês, ano a ano. O sistema cobre o Brasil e os demais países sul-americanos. Também são fornecidos recortes por estados e biomas.
Uma comparação temporal revela que em 2019 o número de focos de queimadas ficou abaixo da média, que em 2020 ficou acima da média e que em 2021 ficou abaixo da média de novo. Sempre oscilando próximo aos 200 mil focos, mas dentro da faixa de variação que já vem sendo observada desde os primeiros anos de monitoração. Para efeito de comparação: em 2020, sob Bolsonaro, o Brasil teve 222797 focos; em 2015, sob Dilma, havia tido 216778; e em 2010, sob Lula, 319383. Uma comparação mais abrangente da variação ano a ano você encontra aqui.
Por outro lado, ao fornecer dados de países vizinhos, o sistema do INPE também permite que as comparações sejam feitas tendo em mente as condições climáticas pontuais do continente. A estiagem, a chuva, o fogo não conhecem fronteiras e nem têm preferências político-ideológicas.
De fato o ano de 2020 foi especialmente ruim para o Pantanal em termos do número de focos de queimadas, mas também foi especialmente ruim para toda a Bacia do Paraná. A Argentina teve o pior ano histórico de queimadas naquele ano (aliás, a Argentina voltou a bater recordes históricos de queimada nos meses de dezembro de 2021 e janeiro e fevereiro de 2022, superando o número de foco de todos os anos anteriores, inclusive 2020).

Em 2021 o Brasil terminou abaixo da média histórica em relação ao número de queimadas: foram 184081 focos contra uma média anual de 219414 focos. Para se ter uma ideia, em apenas um dos 8 anos de governo Lula, o número de queimadas ficou abaixo de 184081. Nos anos Dilma e Temer quatro tiveram mais do que 184081 focos e quatro tiveram menos.
Isto não significa necessariamente um trabalho especialmente bom do atual Governo Federal no combate aos incêndios florestais nem significa que o Lula cuidava especialmente mal das florestas brasileiras em seus oito anos no Planalto. As variações podem ter causas totalmente diversas do zelo federal ou da eficácia das medidas implementadas pela Presidência. Entretanto os números precisam estar claros quando se analisa não apenas as taxas de queimadas no país como, e com grande destaque nos últimos anos, a validade e a honestidade o discurso político fabricado recentemente em torno do tema.
TUÍTE DE LEONARDO DI CAPRIO ATEIA FOGO NOVO À POLÊMICA
Na campanha global para que adolescentes brasileiros tirem título de eleitor o ator Leonardo DiCaprio escreveu que “O Brasil abriga a Amazônia e outros ecossistemas críticos para as mudanças climáticas. O que acontece lá é importante para todos nós e o voto dos jovens é fundamental para impulsionar a mudança para um planeta saudável.“
Leonardo é antigo e declarado opositor de Bolsonaro nas redes sociais e sua fala foi interpretada como uma alfinetada no algoz. O ator havia sido – em anos anteriores – uma das vozes internacionais, como Macron e Thunberg, mais ativas na disseminação de histeria global sobre os dados ambientais brasileiros.
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