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O mês de setembro foi escolhido como mês chave para se promover campanhas de prevenção contra o suicídio, e é este mês que órgãos de imprensa e ativistas usam preferencialmente para divulgar estatísticas identitárias sobre o problema. Uma das mais divulgadas “informações” sobre o tema é a de que o suicídio atingiria majoritariamente a população negra e jovem. O portal negrista Alma Preta publicou: “Pesquisa aponta que a principal vítima de suicídio no Brasil é o jovem homem negro”. Já o site do Estadão afirma: “Jovem negro, entre 10 e 29 anos de idade. Esse é o perfil das pessoas que mais cometem suicídio no Brasil nos últimos quatro anos.”

Checamos: as duas NOTÍCIAS acima são falsas. Na verdade a maioria das vítimas de suicídio no Brasil é composta por pessoas brancas, do sexo masculino, e com idade acima de 30 anos. Não por jovens negros, como os dois portais mencionados (e outros) desinformam.
Veja – nos prints abaixo – os números reais de suicídios entre 2012 e 2018, segundo o Sistema de Informação de Mortalidade do Ministério da Saúde. Perceba que em nenhum ano entre 2012 e 2018 houve mais suicídios de negros que de brancos. Todos os números podem ser conferidos no site do DATASUS.
Além disso, ao contrário do informado pelo Estadão, em todos os anos a maioria dos suicidas estavam na faixa entre 30 e 39 anos. É nesta faixa etária (mais que em qualquer outra) que ocorre a maioria dos atentados contra a própria vida. Dos 12 733 suicídios registrados em 2018, em pelo menos 9 136 a vítima tinha mais do que 30 anos de idade (em 34 casos a idade da vítima não foi informada).
Embora, segundo o IBGE, a maioria das população seja composta por pretos e pardos, em todos os anos se suicidaram mais brancos do que pretos e pardos somados. Como negros e pardos representam a maioria da população, não seria de se espantar que eles representassem também a maioria dos suicidas, mas não: mesmo sendo a minoria numérica da população brasileira, são brancos (e não negros) a maioria numérica dos suicidas brasileiros. Em 2018 houve 6 264 notificações de suicídios cometidos por pessoas brancas e 6 099 notificações em que as vítimas eram pretas ou pardas.







Perceba também que – ao contrário do que desinformam o portal Alma Negra e o Estadão – jovens são minoria entre os suicidas. Sim, entre os jovens há mais pardos e pretos que brancos se suicidando, mas isto não suporta nem a inferência falsa de que “principal vítima de suicídio no Brasil é o jovem homem negro” divulgada pelos ativistas do Alma Preta nem a informação falsa de que “o perfil das pessoas que mais cometem suicídio no Brasil nos últimos quatro anos é de pessoas jovens e negras de entre 10 a 29 anos” disseminada pelo Estadão.
O portal Alma Preta ainda mente mais, ao divulgar que “Homens negros são 50% mais vítimas de suicídio do que os brancos e seis vezes mais do que as mulheres negras”. Na verdade, pelos dados do Ministério da Saúde de 2012 a 2018, considerando apenas pessoas do sexo masculino, somente em 2018 morreram mais negros (pretos ou pardos) que brancos, mas mesmo neste ano não houve 50% a mais de vítimas negras do que brancas: na verdade foram 4 916 homens pretos e pardos contra 4 794 brancos em 2018.
Em todos os anos anteriores o número de homens brancos se suicidando foi maior do que o de homens pretos ou pardos: 4 782 brancos, 4 767 pretos e pardos em 2017; 4 366 brancos, 4 332 pretos e pardos em 2016; 4 289 brancos, 4 101 pretos e pardos em 2015; 4 125 brancos, 3 901 pardos em 2014; 4 044 brancos, 3 844 pretos e pardos em 2013 e – finalmente – 3 896 brancos, 3 757 pretos e pardos em 2012.
Das 12 733 pessoas que se suicidaram em 2018, 9 999 eram homens e 2 729 eram mulheres . O número é coerente com os registros dos anos anteriores.
Para os ativistas identitários que poluem ONGs, universidades e veículos de imprensa vale tudo na hora de criar uma narrativa que coloque “minorias” em situação de desvantagem em relação às “maiorias”, principalmente mentir.
ATUALIZAÇÃO: PEDIDOS DE CHECAGEM E DE ESCLARECIMENTO
O Estadão possui uma “agência de checagem”, a Estadão Verifica: enviamos um pedido para que eles chequem este post aqui. O pedido foi enviado através de mensagem para o WhatsApp da agência ( 11 99263-7900) e até agora não houve resposta.
Questionamos também, através de um tuite, à autora da matéria publicada no Estadão sobre suas fontes. Ela menciona uma “pesquisa divulgada pelo Ministério da Saúde”, mas não cita o nome do documento. Acreditamos que ela tenha “se confundido” com as informações disponíveis no documento “Óbitos por suicídio entre adolescentes e jovens negros 2012 a 2016” que realmente foi publicado pelo Ministério da Saúde, mas que não suporta as afirmações feitas por ela no texto para o Estadão.
De qualquer modo, até o momento, não obtivemos resposta nem da Estadão Verifica nem da jornalista Camila Tuchlinski.

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