DANIEL REYNALDO
Rio de Janeiro, 06 de maio de 2019
Camille Paglia é uma professora, escritora e pensadora estadunidense que – mesmo sendo feminista, lésbica e transexual – não costuma fazer com que progressistas “defensores das minorias” morram de amores por ela.
Paglia é tudo o que não se espera de uma intelectual lésbica e transgênero feminista.
Não demoniza a metade masculina da espécie, mas exalta a contribuição dos machos na condução de todo o avanço tecnológico e social pelo qual a humanidade tem passado, inclusive a construção do ambiente social que tornou possível a emergência do feminismo.
Não advoga pela obrigação legal de que homens transexuais sejam tratados como mulheres, ou vice-versa. Considera que legislações neste sentido atentam contra as liberdades individuais de consciência e expressão.
Não despreza a sexualidade masculina heterossexual: conclama as mulheres e a sociedade a compreenderem a natureza benigna da paquera, da demonstração de interesse sexual. Acredita que a legislação não deve punir demonstrações naturais e pacíficas de interesse sexual entre humanos, e que acusados de abuso de sexual devem passar por julgamento com ampla defesa em vez de serem condenados com base apenas na versão da acusação.
Paglia reconhece o papel da biologia na formação dos padrões de comportamento humano: não apenas reconhece, como estuda e leva em consideração em suas análises, ao contrário do default entre pesquisadores em Ciências Humanas, que tendem a tratar qualquer intervenção biológica na compreensão dos padrões sociais humanos como herética.
O pensamento de Paglia parece anacrônico num mundo onde pessoas são ameaçadas de processo por chamarem um homem de homem; onde tribunais e cortes e intelectuais ungidos são cada vez mais coesos em criminalizar qualquer abordagem masculina que demonstre interesse sexual não correspondido, ou mesmo correspondido com posterior arrependimento da fêmea; onde o uníssono é o de que os machos da espécie (ou, usando o jargão feminista, o patriarcado) foram responsáveis por todos os males que recaíram sobre as fêmeas de Homo sapiens durante toda a história.
Recentemente a crítica cultural, que leciona para estudantes de comunicação e artes há três décadas pela Universidade de Artes da Filadélfia, vem sendo alvo de uma petição encabeçada por aquela mesma meia dúzia de ativistas barulhentos de sempre. Pedem que seja substituída por algum professor homossexual e afrodescendente. O motivo não é o fato de ela ter conduzido estudos fraudulentos sobre mortes motivadas por lesbofobia, ou algo do tipo.
A solicitação se baseia em opiniões de Paglia apresentadas em palestras e entrevistas sobre temas como o movimento #MeToo, a legislação estadunidense conhecida como Title IX ( um conjunto de normas para “igualdade de gênero” que tem como um dos principais produtos a formação de tribunais em que alunos do sexo masculino são frequentemente condenados sem direito a defesa, Christina Hoff Sommers fala sobre o assunto aqui e aqui) e sobre temas diversos associados ao transexualismo.
O final da petição divulgada pelos floquinhos de neve especiais, pedindo a demissão de Paglia, merece tradução.
Pareceria até piada, caso eu não estivesse acostumado:
Aqui está o que nós exigimos à Universidade de Artes da Filadélfia:
1) Camille Paglia deveria ser removida do corpo de docentes da UArts e substituída por uma pessoa homossexual e “de cor”. Se, devido à posse, for ilegal demiti-la, então a Universidade deve pelo menos oferecer sessões alternativas às aulas que ela leciona, desta vez conduzidas por professores que respeitam os alunos trans e as vítimas de abusos sexuais.
2) A Universidade das Artes deve deixar de oferecer a Camille Paglia espaços adicionais como participações em eventos ou oportunidade de que ela venda seus livros no campus.
3) A Universidade das Artes deve ser desculpar pela sua resposta embaraçadora a esta situação, e o reitor David Yager, especificamente, deve pedir desculpas pela sua carta imensamente ignorante e hipócrita.
4) A Universidade das Artes deve reunir-se com grupos de estudantes transexuais e vítimas de abusos sexuais para discutir como eles podem ser melhor apoiados daqui pra frente. Este grupo deve incluir estudantes “de cor”.
Universidade das Artes: vocês estão desrespeitando seus alunos e os colocando em perigo. Melhorem.
OUTRA PETIÇÃO
Enquanto a petição inicial no portal change.org – contra Camille – alcançou 1350 assinaturas, uma outra petição virtual, aberta dias depois, em apoio à Camille já alcançou 8654 assinaturas.
Um trecho do texto em defesa de Camille:
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