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Escrevi um post ontem em que demonstrava que aquela história de que o Brasil é o 5º país do mundo em taxa de assassinatos femininos é conduzida a partir de um curioso (mas bastante comum) artifício: a listagem reduzida.
A lista que coloca o Brasil em 5º lugar é um documento publicado por uma agência da Organização das Nações Unidas (a ONU Mulheres) que reúne dados de apenas 83 países do mundo (a ONU tem 163 estados membros). Na verdade é ainda pior, já que como – nesta lista – Reino Unido, Escócia e Irlanda do Norte aparecem divididos, então a lista tem na verdade 81 dos 163 países.
Para quem acompanha futebol, uma analogia: é como se alguém fizesse uma lista de países campeões mundiais que só tivesse França, Argentina e Inglaterra e depois saísse divulgando que “Inglaterra é o terceiro país com maior número de copas do mundo”. (A Inglaterra divide a 7ª posição com a Espanha, mas se você fizer uma lista que não tenha o Brasil, o Uruguai, a Itália e a Alemanha ela pula para 3º: simples, né?)
Considerando as taxas e proporções de homens/mulheres assassinados a partir dos dados de outra agência da ONU ( o Escritório das Nações Unidas para Drogas e Crime), contendo TODOS os países membros da ONU mais alguns não membros, o Brasil pula da 5ª para a 41ª posição.
Não há dúvidas de que é desonesto divulgar que o Brasil é o quinto maior país em assassinatos de mulheres em todo o mundo tendo por base uma lista que só conta menos da metade dos países, mas fui chamado à atenção por um detalhe e parei para dar uma comparada melhor nos dados. Há mais coisas interessantes, além da falta de países na listagem. Há incongruências bastante estranhas entre os países listados pela ONU Mulheres.
O caso que me chamou a atenção, e que me fez parar pra brincar um pouco de detetive com os números da tabela, foi o de Honduras.
Honduras aparece na lista do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime como 7º país mais violento para mulheres (e o mais violento para a população em geral) numa lista de 202 países e regiões (a lista da UNODC considerou territórios como Porto Rico, que faz parte dos EUA, ou Guiana Francesa, que faz parte da França, como países separados).
Já na lista da ONU Mulheres, a mesma Honduras aparece na 70ª posição entre os 83 países listados: segundo a ONU Mulheres, Honduras é uma nação mais segura para as mulheres que Suécia, Holanda, Austrália, Escócia, Irlanda do Norte, Nova Zelândia e Canadá!

Fiquei com uma pulga atrás da orelha: afinal de contas, Honduras é especialmente conhecida por ser o país com maior taxa de homicídios do planeta. Será por deus que as mulheres daquele país são imunes à bala?
Pois é: fui checar, e no ano de 2013 (ano base dos dados apresentados para aquele país, na listinha da ONU Mulheres) na verdade morreram 636 mulheres assassinadas em Honduras, o que dá uma taxa real de cerca de 14 mulheres assassinadas por cada 100 mil habitantes do sexo feminino ! A lista da ONU Mulheres errou por mais de 40 vezes a taxa real de assassinatos femininos de Honduras em 2013. Santa la madre de dios!

Outro exemplo foi Grenada: em 2012 o governo da pequena ilha caribenha registrou pelo menos 5 homicídios femininos (contados até 10 de outubro de 2012). Como a ilha tem cerca de 50 mil mulheres, a taxa aproximada de homicídios femininos deveria ser de 10 homicídios por 100.000 habitantes.
Na lista da ONU Mulheres, Grenada aparece com 0 homicídios por 100.000 habitantes, dividindo com outros 5 países o último lugar (na verdade deveria aparecer em alguma posição acima do Brasil). Por outro lado, a Escócia aparece com taxa de 0,3 homicídios femininos por 100 mil habitantes nos dados da OMS/ONU Mulheres, com referência para o ano de 2013.
Uma diferença considerável para os dados indicados pela ONU Mulheres. Neste caso a lista da ONU Mulheres toma o rumo contrário ao que tomou quanto a Honduras e Grenada, apresentando uma taxa de mais que o dobro da taxa oficial apresentada pelo governo da Escócia para o mesmo período.
Não tive tempo nem paciência para checar todos os dados: mas parece que o pessoal da ONU Mulheres que elaborou o Mapa da Violência 2015 também não teve. Tsc tsc
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